quarta-feira, 5 de julho de 2023

NEGAÇÃO

 

(Horacio Xavier - Todos os direitos reservados)


Não

Não me fale de desejo

Dos corpos esparramados no azulejo

 

Não

Não me fale de paixão

Das coisas loucas que ser faz no chão

 

Não

Não me fale de amor

Dos corações atados, do teto ao cobertor

 

Não

Não me fale

Não me fale nunca

Não me fale nunca mais

De tudo que me lembre este rapaz

ENQUANTO O SONO NÃO VEM

 

(Horacio Xavier - Todos os direitos reservados)


Olharei tua face angelical

Teus desejos

O tom de tua pele divinal

 

Tocarei tuas mãos suaves

Teus sonhos

O calor de tuas diversas partes

 

Beijarei tuas pernas ágeis

Teus anseios

O sabor de todas as tuas carnes

 

Abraçarei tuas costas fartas

Teus carinhos

O aroma que exalas e que me faz tão bem

Enquanto o sono não vem

 

NATURALIDADE DE UM INSTANTE DE AMOR

 

(Horacio Xavier - Todos os direitos reservados)

A penumbra, andrógina dengosa

Assiste sem surpresa ou pudor

O afago menino e o apaixonado beijo

 

A janela, fã entreaberta

Observa sem olhar de julgador

O carinho juvenil e o audacioso remelexo

 

O lençol, repleto de deleite

Experimenta sem espanto acusador

O maduro prazer no momento do desfecho

 

A cama, receptáculo perfumado

Abraça de que jeito for

Os homens de corpos iguais

Entorpecidos de desejo

 

PORQUE A FAXINA É NECESSÁRIA (PARA GUARDAR O QUE IMPORTA)

 

(Horacio Xavier - Todos os direitos reservados)


Recolherei as minhas tralhas

Minhas escancaradas falhas

Minhas cabeças cansadas

 

Recolherei meus cacarecos

Meus abusados defeitos

Meus desejos indiscretos

 

Recolherei minhas bagunças

Minhas palavras inoportunas

Minhas descaradas penetrações

 

Guardarei então, extasiado

Meu sentimento desavergonhado

No cofre seguro das paixões

 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

DAS DIVERSIDADES


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Abraçarei todas as partes
Todas as carnes
Todas as formas de amar

Juntarei todos os itens
Todos os poros virgens
Todos os prazeres espalhados no ar

Abraçarei todas as metades
Todas as línguas ágeis
Todas as faíscas que o toque criar

Juntarei todos os pedaços
Todos os bocados
Todos os desejos que puder experimentar

E ao acordar de madrugada
Arrumarei as minhas malas
Espalharei as minhas marcas
Em cada corpo que restar

DO QUE SÃO FEITAS AS TRANSFORMAÇÕES


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Entre sorrisos
Palavras e emoções
Fez-se o grito
O verbo, que há de calar solidões

Entre olhares
Sentimentos e sensações
Fez-se a mansidão
A espera, das divinas aglutinações

Entre sons
Melodias e divagações
Fez-se a canção
O parto, das complexas harmonizações

Por entre os céus
As terras e as nações
Fez-se o homem
A semente, que é broto das transformações

REVELAÇÃO


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Deixo cair o pano
Que cobre o desejo
A pele
A face que enrubesce

Deixo cair a água
Que lava a paixão
O beijo
O pelo do arrepio derradeiro

Deixo cair a faca
Que corta o sentimento
A sofreguidão
A carne trêmula de excitação

Deixo que se mostre, sem pestanejar
Os prazeres análogos sobrepostos
A idêntica anatomia dos corpos
O cheiro do gozo, sobrepujando o ar

TRANSFUSÃO DE AMOR


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Tiro a roupa que me veste
Que me cobre as vergonhas
Que me mostra inteiro
No espelho em que te encontras

Rasgo o sentimento que me esconde
Que me oculta os desejos
Que me expõe totalmente
Na vitrine dos teus beijos

Quebro a pedra que me perfura
Que me corta e me fere
Que me desvenda o sangue e a carne
Na maciez da tua pele

No teu colo que me protege
Irrigo as veias que me nutrem
Que me alimentam do teu amor
No instante em que nos unem
No ápice, nos orgasmos que nos fundem

SOBRE DOR, TEMOR E CONTRAVENTOS


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Seguirei o rastro do sentimento
Aquele crescente que se faz ardor
Qual fluxo intangível de enganar a dor

Estarei no encalço do desejo
Aquele potente que se faz senhor
Qual veio intocável de espantar temor

Pé ante pé
Qual brisa pronta para ser furacão
Espalho sonoros gemidos
Esparramo tremores e arrepios
Desfaço os atrevidos redemoinhos
Com os contraventos da paixão

sexta-feira, 4 de maio de 2018

ANTES DE O INVERNO CHEGAR


(Horacio Xavier © Todos os direitos reservados)


Manhãs de outono
Regadas de cinza e frio
Fazem nascer o sonho
De amores, nem tão tardios

Tardes de outono
Bordadas de fio-a-fio
Desenham a seu bel prazer
Os desejos, sem desvarios

E as noites de outono,
Aquelas dengosas que transpiram paixão,
Umedecem o corpo estendido
Pelo poder da língua, dos dedos e do sexo bom